domingo, 24 de julho de 2011

Domingo, 24.07.11

Esta é a primeira publicação que eu faço. Tudo começou com uma brincadeira, um comentário com os policiais com os quais trabalho sobre como a nossa vida profissional é cheia de altos e baixos, cheia de novidades, em como não podemos prever como será o nosso dia. Isso me fez escrever neste blog, para que eu me recorde de cada dia que passei dentro da delegacia onde trabalho. Me chamo R. S. P. N. e sou atualmente titular de uma Delegacia de Pronto Atendimento no Rio Grande do Sul.

Nossa delegacia tem a função de oferecer o primeiro atendimento quando se tem notícia de um crime. E eu, como titular, coordeno administrativamente esta delegacia, bem como também faço parte das equipes que se revezam ininterruptamente para que nunca a Polícia Civil feche as portas na cidade. Os turnos são de 24 horas, com 72 de descanso. A princípio pode parecer muito tempo em casa, mas confesso que esse período em que desligamos a cabeça da função é extremamente necessário para que continuemos desempenhando um bom papel.

Portanto, trabalham quatro delegados (contando comigo) na carinhosamente conhecida DPPA. E hoje é dia de plantão. Contarei como são os meus dias, para que todos saibam como é a atividade de um delegado de polícia, bem como para que eu não me esqueça dos nossos feitos aqui.

O dia começou tranquilo. Após encontrar outro delegado que acabava de sair do plantão e este ter contado que a noite havia sido péssima, pensei positivamente, tentando atrair para mim somente coisas boas, principalmente no dia exato do meu plantão. E assim foi. Fiquei praticamente toda a manhã lendo um livro que me propus a ler (chama-se "A marca da Besta"). Após isso, fui almoçar. meu almoço foi bem tranquilo, com os sogros, um afilhado deles e a namorada. Lá no restaurante, coincidentemente encontrei outros 3 delegados que trabalham comigo (um já saiu para assumir suas funções em outra delegacia) e ficamos conversando um bom tempo sobre a carreira, sobre as coisas que deveriam ser mudadas e as que podem permanecer inalteradas (amigos: há muito o que mudar).

Do restaurante, no deslocamento para minha residência, recebi um telefonema de que havia morrido uma mulher, aparentemente seria mais um caso de suicídio, por isso não dei muita relevância, já que nosso trabalho investigativo praticamente é morto em um caso dessa estirpe. Mas a surpresa foi quando chegamos ao local. Havia um corpo de uma mulher de aproximadamente 24 anos estirado no chão. Segundo os peritos que compareceram no local, ela devia ter morrido já há alguns dias (dois ou três). O corpo encontrava-se em um bom estado de conservação, talvez pelo frio do inverno, mas o rosto e um pedaço do braço não. Animais supostamente teriam feito com que desaparecessem as carnes da região. Por sorte conseguimos localizar a bolsa dela, onde havia o documento que a identificava. Lamentavelmente, além de sua morte, ocorreu também a do bebê que geria em seu ventre. Uma cena lastimável, para ser esquecida, mas que faz parte de nossas atividades diárias. Acompanhamos todos os locais onde a morte pode ter sido violenta.

Retornando à DPPA, vimos que a nossa viatura apresentava um defeito de freio. E mudando completamente o rumo de pensamento, saí da análise do local de um suposto crime para cuidar administrativamente do patrimônio público. A nossa vida é assim, e isso é que dá graça nessa profissão. Em 24 horas despachamos ocorrências, realizamos prisões em flagrante, vamos a locais de morte, nos reunimos com promotores, juízes, prefeitos, chefes, colegas. Enfim, é a vida mais dinâmica que se possa imaginar. Rotina aqui não existe! E eu adoro essa vida!

Problema da viatura parcialmente resolvido (já que conseguimos apenas um empréstimo de uma outra viatura de outra delegacia), é chegada a hora de atender um caso em que um veículo foi furtado, mas prontamente recuperado pela Brigada Militar (verdadeiros companheiros da nossa Polícia Civil em vários casos). 

Assim, com nada acontecendo, com a delegacia calma, sem muito público neste domingo, parti para um jantar. Mas nunca se sabe quanto tempo pode durar essa "folga", por isso é bom aproveitar enquanto nada de grave acontece. Deixei minha delegacia aos cuidados dos meus zelosos policiais, que me ensinam a cada dia como essa vida deve ser vivida. 

Ainda tivemos o inusitado caso de um foragido que ligou para a Brigada Militar pedindo que fossem buscá-lo em sua casa e entregando-se. Alegou que teria descumprido o regime semiaberto porque sua teria tido um AVC e, obviamente, precisado de sua ajuda. Ao menos a honestidade (ou para alguns loucura) reinou nessa caso, que foi rapidamente resolvido.

Tentei as 3:57, dar uma deitada, esperando não ser chamado para mais nenhuma ocorrência até o fim desse plantão de hoje, que eu posso chamar de light perto de outros já vividos.

Contei aos amigos essa intenção de narrar os meus dias trabalhados, para mostrar como trabalha um delegado, e todos apoiaram a ideia. Assim, espero que eu tenha forças para continuar redigindo essas singelas palavras de lembrança de mais um dia vencido na luta contra a criminalidade e a violência.
Até a próxima! Agora vêm os merecidos 3 dias descanso... 

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