quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Segunda, 26.09.11 - Dia de reuniões

Segunda-feira é o dia mais tranquilo de todos. E essa não foi muito diferente. Comecei o dia com as boas e velhas ocorrências registradas no final de semana. É impressionante como o ser humano se repete; sem as pessoas se conhecerem, praticam sempre os mesmo tipos de crimes, são os mesmos fatos, só mudando o endereço praticamente. Vizinhos perturbando os outros com volume alto de música ou televisão, brigas de família com ameaças e lesões corporais leves, injúrias, alteração de limites de propriedades, descuido na guarda de animal perigoso. Esses crimes ou contravenções são de simples apuração, mas devido à sua grande quatidade, fazem pararmos as investigações de crimes mais graves para dar também atenção a eles. Ao menos um dia podiam deixar de pelear por picuinhas, e viverem sua vida de forma pacífica.

Após o almoço, me dirigi à sede da Polícia Civil da Região para duas reuniões. A primeira delas visava tratar da instalação da Delegacia para o Turista, com vistas à preparação da Copa do Mundo de 2014, para que tenhamos profissionais aptos a receber qualquer visitante. Expostas as ideias pelo representante da Secretaria de Turismo, foi a vez dos superiores mostrarem suas ideias. Basicamente expuseram que deve haver um grande investimento no treinamento daqueles que trabalharão diretamente com turistas, desde a língua até aulas sobre relações pessoais e etiqueta. Quando perguntaram se alguém mais tinha uma opinião, coloquei o meu ponto de vista, de que temos que investir em Delegacias itinerantes, que possam se locomover para chegar ao local de maior movimento para determinado período, seja a rodoviária, seja a praia ou mesmo o calçadão no centro da cidade. Além disso, propus que como forma de incentivo aos policiais que irão fazer os cursos e trabalhar nas Delegacias a serem instaladas, que tivessem preferência para quando ocorra a Copa do Mundo. Agora poucos querem aprender uma língua ou atender a turistas, mas quando chegar o grande evento mundial, todos quererão participar, e nada mais justo que deixar que participem aqueles que colaboraram com a evolução da Delegacia para o Turista.

Terminada essa reunião, partimos para a próxima, com o representante da Delegacia de Polícia do Interior, que nos contou como seriam as pretensões da Chefia no que toca à Operação Verão (reforço com policiais de outras regiões durante o verão para locais que mais recebem turistas para o veraneio). Isso deixou a todos muito contentes, pois além de ajudarmos nos lugares mais cheios, e que precisam de maior policiamento, recebemos uma pequena ajuda financeira, que nos permite ao menos pagar as contas de fim de ano. Outros temas ainda foram levantados, mas nada de maior relevância para ser narrado aqui.

Quanto ao plantão, enquanto estava na reunião, recebi telefonemas contando uma possível receptação, uma briga entre nora e sogra e também um furto em estabelecimento comercial de pequeno valor. Não fiz nenhum flagrante desses, pois desnecessários. Terminadas as reuniões, me dirigi à Delegacia.

A princípio nada de grave acontecendo. Achei que nada de mais aconteceria, quando recebemos uma ligação da Polícia Rodoviária Federal, afirmando que havia detido um veículo com o motorista portando mais de dez mil reais. A denúncia anônima contava que ele estaria levando o dinheiro de um traficante de volta para Porto Alegre. Entretanto, como não provamos o vínculo do dinheiro, e não há crime em transportar essa quantia de dinheiro, após ouvir muito as partes e tomar os depoimentos dos envolvidos (pois havia um carona no carro), acabamos por liberá-los. Não sei se tinham alguma culpa no cartório, porque a história cobertura era bastante plausível, mas se tivessem praticando algum fato típico, o fizeram de uma forma tão bem feita que foi impossível apreender ou prender os envolvidos em flagrante. Isso me deixou um pouco frustrado, pois se realmente tivessem relação com o tráfico, não poderíamos fazer nada, enquanto que em outras oportunidades, prendemos pequenos traficantes. A minha vontade é pegar os peixes grandes, para ao menos ter uma participação ativa na quebra do tráfico de drogas, porque esses pequenos peixes são rapidamente repostos no aquário.

E para finalizar a noite, foi apresentada uma mulher e mais dois indivíduos por terem praticado um furto em um consultório médico, levando uma tela lcd, caixas de som e um estabilizador. Interrogadas as partes envolvidas, nenhum deles tinha relação com o furto e poderiam ser liberados, porém a mulher (que estava com os bens no momento da abordagem da Brigada Militar) acabou presa por receptação - já que admitiu que conhecia a pessoa que teria furtado o local e este teria entregado a ela para que transportasse a outro lugar. Tentou encobrir o conhecido, o que foi o fato derradeiro que a fez ser mandada ao presídio.

Eram 3:30 hs quando as coisas ficaram mais calmas, e nada mais ocorreu de grave até o fim do plantão (graças a Deus). 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quinta, 22.9.11 - Algumas munições

Mais uma vez comecei o dia despachando as ocorrências registradas no dia anterior. Isso sempre ocorre quando fazemos plantão durante a semana, quando estão abertas as demais Delegacias e também a nossa Secretaria. E como sempre, terminei de rabiscar em pouco tempo, um par de horas e tudo já estava devidamente assinado.
E não tardou muito para recebermos o primeiro caso a ser solucionado. Em uma abordagem de rotina nos rios da região, a Brigada Militar, ao se aproximar de um barco, viu que os tripulantes jogaram na água algum objeto, o qual não souberam precisar. Ordenaram, então, que o barco parasse, e subiram nele para fazer uma revista mais precisa. Lá encontraram alguns poucos peixes e perguntaram o que teriam atirado para fora da embarcação. Os tripulantes ficaram silentes, e como não havia mais nada de irregular, seriam todos liberados. Entretanto, no momento em que desembarcavam, perceberam que um deles tentava esconder um barril ou algo dentro dele. Ao averiguarem, encontraram mais de 80 munições calibre 12 e algumas calibre 22. Essas munições servem para a caça de pequenos animais, mas o porte delas, apesar de comum, é proibido, permitindo-se apenas àqueles que tiverem autorização legal para tanto. Como o senhor de 72 anos, nem seus filhos a possuíam, acabamos por autuá-los em flagrante. Por sorte, pagaram fiança e poderão responder ao processo em liberdade.
Outro caso inusitado foi o do motoboy que foi parado pela Polícia Militar por suspeitas de tráfico de drogas. Porém, o que havia em sua mochila era vários envelopes plásticos com vários nomes neles e uma boa quantia de dinheiro. Chegando na Delegacia, confessou que foi buscar o material para seu padrasto, que é envolvido com o jogo do bicho. Por não ser um crime grave, apenas registramos os fatos e liberamos as partes.
Ainda tivemos um acusado de furto em loja de departamento. O objeto do furto foi uma bermuda no valor de R$ 70,00. Ao ser indagado, falou que está desempregado e passando fome, mas porque motivos teria tentado levar a bermuda? Se realmente fosse a fome, até ele sair da loja, encontrar um comprador e sair para comprar a bendita comida, já teria sucumbido. Óbvio que não era esse o motivo da sua tentativa de furto, sobretudo por estar bem arrumado. Nesses casos, apesar de errado, ainda assim, não costumo autuar em flagrante e encaminhar à prisão, mas especificamente aqui, não me restou escolha. A reiteração de condutas dele era impressionante, e o que não pode acontecer é haver descrédito nas instituições públicas. Atualmente vivemos uma época em que os funcionários públicos em geral estão todos desacreditados, e somando a isso, temos a certeza da impunidade na cabeça do bandido. Se não tomamos algumas atitudes, o mundo tende a piorar. Em casos de baixo valor, onde não há violência, a princípio, não devemos prender a pessoa, mas mostrar o caminho correto. Todavia, quando este não aprende o caminho, mesmo após todas as oportunidades que lhe foram dadas, não nos resta opção a não ser a clausura.
E mais uma vez atendemos ocorrência de furto arrombamento. Mas dessa vez o caso foi inusitado. O invasor conseguiu ingressar na residência e estava levando as coisas quando passou em frente à casa um senhor interessado em alugá-la (por haver uma placa em sua frente). Ao perceber que havia alguém dentro do local, o senhor se aproximou para perguntar maiores detalhes, mas se deparou com a porta arrombada e com o rapaz dentro dela com vários bens dentro de sacolas. Acabou prendendo ele em flagrante! Para aqueles que não sabem, qualquer do povo pode prender em flagrante alguém que esteja praticando algum delito, enquanto que os policiais devem fazê-lo. Também é preciso deixar claro que todo cuidado é pouco, não vale a pena se arriscar se não for o seu dever agir de modo a deter um meliante. Mas nesse caso específico, felizmente, tudo deu certo e houve a prisão. A vítima ficou muito agradecida ao senhor, por ter recuperado os seus bens (acho que ela deveria dar um desconto no aluguel da casa que ele estava interessado).
Por fim, um furto de 10 barras de chocolate em um minimercado. A ladra foi pega próximo ao local, com uma mala pronta para viajar para a capital. Ao ser indagada, narrou que iria vender as guloseimas para levantar um dinheiro para custear a viagem, e que só queria voltar para casa. Acabei não fazendo esse flagrante devido ao bem furtado, e à baixa lesividade dessa conduta, mas a ladra não sabia desse lado jurídico. Conversei que daria mais uma chance, mas esse não era o caminho. Ela estava com o rosto esfolado, por ter tentado escapar da PM e ter caído no momento em que a imobilizavam, mas esse não foi o motivo que a levou a chorar. Essas pessoas têm vidas muito difíceis, e o crime certamente não é o caminho, só que muitas não escolheram esse caminho por que querem, mas por falta de opção. Temos que agir muito mais como assistentes sociais do que como policiais nessas horas, e eu gosto disso! Somos pessoas de muitas facetas, nos adequamos a qualquer situação: essa é a minha Polícia!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Domingo, 18.09.11 - Acumulador de objetos

Para ser um pouco diferente das demais publicações, dessa vez escolherei apenas um caso e contarei o que nos aconteceu nos mínimos detalhes, para que acompanhem os sentimentos, as apreensões, as visões que temos que enfrentar.

Eram aproximadamente 20 hs, e eu havia acabado de sair da Delegacia para tentar comer alguma coisa (já que nós temos que comer na hora de mais tranqüilidade e descansar quando pudermos, pois nunca sabemos quando seremos chamados novamente). Ingressei em minha casa e fui tomar banho, para tentar tirar um pouco do peso da primeira parte do plantão, e também a fim de conseguir um fôlego extra para agüentar as horas noturnas que estavam por chegar.

Durante o banho, escutei o telefone tocar. Nosso telefone funcional tem um toque característico e toda vez que ouço, já me preparo para o pior (normalmente - 90% das vezes - as ligações que recebemos dizem respeito exclusivamente ao trabalho, sobretudo quando estamos no dia do nosso plantão). Saio ainda molhado, enxugo as orelhas para não danificar o aparelho e recebo a notícia de que um óbito havia ocorrido em um bairro distante. Saio sem pestanejar do box e visto as roupas para esperar a viatura da nossa gloriosa Volante passar em frente de casa para me levar ao local.

Vamos no meio do caminho escutando a comunicação via rádio da PM, atentos a eventuais outras novidades. E por sorte, nada de muito importante foi comunicado, apenas uma briga e um disparo de arma de fogo, com vítima encaminhada ao hospital (essa vítima veio a falecer ainda durante a noite, enquanto atendíamos a ocorrência que narro abaixo, não conseguimos estar em dois lugares ao mesmo tempo, e optamos por atender a quem primeiro nos chamou).

Aportando no local, haviam duas viaturas da Brigada Militar, mas eles estavam preocupados com os acontecimentos e perguntaram se não poderia ficar apenas uma das viaturas por lá, para que atendessem a outros pedidos. Lógico que não me opus, pois ao menos uma ficaria para narrar os fatos e outra trataria de deixar a cidade um pouco mais segura. Apenas um brigadiano começa a explicar o ocorrido, quando o outro sai do meio de um matagal, segurando uma lanterna e com cara de alício por ter saído na rua (mais tarde fui entender o porque do suspiro). E é aqui que começa a nossa história.

Para começo de aventura, todos precisávamos de lanternas, já que a residência ficava atrás de um conjunto de árvores e plantas de médio porte. Ligamos as luminosas e começamos a caminhada. No caminho, tínhamos que desviar de galhos, pedaços de madeira, vidros quebrados, atravessamos uma quase imperceptível ponte (que escondia embaixo de si um pouco de água parada), e fomos contornando a residência. As paredes eram de tijolos à vista, dispostos de forma desordenada, com uma grade de proteção contornando parte da casa com garrafas pet fincadas onde eram as pontas em tempos áureos. A PM já havia entrado no local em primeiro lugar, pois eram eles que estavam com a irmã da vítima quando o corpo foi encontrado, e isso facilitou o nosso ainda difícil trabalho, porque o caminho estava ao menos traçado.

No primeiro cômodo, assim como nos demais, havia uma infinidade de coisas amontoadas. Desde garrafas, relógios quebrados, latas, madeira, telhas quebradas (que haviam caído em algum tempo que ninguém soube precisar), geladeiras, etc, etc. Era muito árduo o nosso acesso, mas devagar fomos ingressando. Peça por peça, uma curva para a direita, outra para a esquerda, cuidado com a cabeça para não bater na carroça estacionada desde milênios ali, outra guinada para a esquerda e mais uma à direita. Ufa, enfim chegamos na porta principal; tudo o que caminhamos, o nosso pequeno labirinto, eram apenas aposentos auxiliares. Ela estava arrombada (a própria PM havia forçado-a, com o consentimento do familiar, para melhor apurar os fatos), e dentro, mais paradas acumuladas. Não havia espaço para que pudessem caminhar duas pessoas lado a lado, por isso tivemos que fazer uma fila indiana.

Encontrado o corpo, ele estava revirado, com a cabeça para fora da cama, como se a pessoa tivesse tentado levantar ou algo assim, no momento em que morreu. A quantidade de roupas existentes no quarto era incontável, e todas estavam praticamente sobre a pequena cama. Lá foi o único local em que encontramos luz, envolta em uma garrafa pet verde, e um ventilador ligado. A rede elétrica foi obtida através de um gato na fiação, e o gasto devia ser tão ínfimo que ninguém havia percebido até então. Para completar o nosso ambiente insalubre, existiam duas garrafas de 2l cortadas ao meio, cheias de urina. A pessoa era tão enclausurada, vivia tanto para si mesma, que nem ir ao banheiro para despejar os dejetos era capaz. Olhei para a cena e tentei ver se havia algum sinal de violência, mas nada foi encontrado.

Continuei as buscas em toda a casa, para ver se existia algum acesso mais fácil para a retirada do corpo, e também para ver se encontrava algum vestígio que pudesse ser importante para a cena em que nos encontrávamos. Infelizmente, ou felizmente, era impossível encontrar qualquer bem no meio daquela bagunça. Pensem em um lugar desarrumado, com coisas dos mais diversos tipos empilhados de forma desordenada, como se tivessem sido jogadas apenas, multipliquem por 10 e terão noção de como era a residência internamente. Localizei a geladeira, mas não tive coragem de abrí-la, e ignorei sua presença ali. Na verdade queria é sair daquele lugar totalmente escuro e cheio de objetos indefinidos.

Sanadas as dúvidas, entendi que não havia sido cometido nenhum crime, e que deveríamos apenas recolher o corpo para o DML fazer a perícia e, dependendo do resultado, regressar com luz solar para melhores buscas, pois só com as nossas lanternas era impossível achar algo.

Chegado o camburão dos peritos, voltamos à nossa peregrinação para sair da casa e depois voltar mostrando o caminho. Dentro da peça, só os corajosos peritos (repito, esses profissionais merecem todo o nosso respeito, pois a tarefa que lhes incumbe não é nada fácil) conseguiram entrar para remover. Coloquei luvas para tentar ajudar em algo, mas o lugar era tão estreito que apenas ajudei moralmente e com a luz da minha lanterna. No momento da retirada, alguém derrubou o xixi no chão, e ficou aquela mistura de odores horrível, sobretudo com a movimentação do corpo, já em estado de putrefação.O saco que trouxeram não foi capaz de suportar o peso, e por isso foi usada uma coberta de auxílio. E lá vão os peritos, passinho por passinho até sair do sufoco, esquerda, direita, abaixa a cabeça, respira um pouco, e continua. Já fora da residência, ajudei a pegar a bandeja e a carregá-la para o veículo. Foi o fim da minha atuação.

Após isso, ainda conversei com familiares para saber do passado do nosso ermitão e conclui que ele havia morrido de causas naturais (posição confirmada pelos peritos posteriormente). Assim, todo esse trabalho foi para buscar um corpo que no fim das contas não teve nenhum fim criminal, não foi objeto de nenhum tipo de investigação. Fizemos isso simplesmente para trazer um conforto para a família que já havia sofrido bastante com a perda do ente querido.

Nem preciso dizer que outras muitas ocorrências aconteceram, mas se eu as contasse, teríamos muitas e muitas palavras a serem repetidas, por isso paro por aqui. Mais uma vez com a sensação de dever cumprido; estamos aqui para ajudar a todos, inclusive aqueles que já se foram. Que eles descansem em paz.

domingo, 11 de setembro de 2011

Sábado, 10.09.11 - O tiro que saiu pela culatra.


Despachos de ocorrências e coisas administrativas. Foi assim que o dia começou. Restava uma pilha de papéis a serem assinados, de folhas a serem remetidas aos mais diversos órgãos, aos mais diferentes Estados. Não demorei muito para terminá-la, talvez uma ou no máximo duas horas.

Colocados os papéis nos seus lugares, sentei na cadeira e esperei as os fatos acontecerem, pois eles com certeza viriam. E de fato vieram. O primeiro caso que tive que decidir foi um tanto inusitado. Um ladrão tinha acabado de furtar a carteira de uma menina na rua, e ela, desesperada correu atrás de ajuda, e uns rapazes que estavam por perto resolveram ajudá-la perseguindo o garoto. Ao alcançá-lo, estavam usando de uma violência um pouco acima do esperado, momento em que um senhor que trabalhava perto do local onde houve a abordagem resolveu intervir e pediu que o rapaz largasse o menino. Ele não sabia que um crime havia acontecido anteriormente, apenas viu a agressão e resolveu ajudar. Como esse rapaz que segurou o menino aparentava ser um lutador de alguma arte marcial, e fez menção de bater nesse senhor, este não pensou duas vezes e ingressou na farmácia onde trabalha como segurança e pegou um revólver que possuía, invertendo a ameaça de agressão. Nesse ínterim, o rapaz acabou por soltar o menino que havia furtado a carteira e logo após chegou a Brigada Militar. Com isso, pediram que lhe mostrassem a sua arma e para seu azar ela tinha o número raspado. Não me restou opção a não ser autuá-lo em flagrante, ficando impossibilitado de arbitrar fiança nesse caso. O senhor de 46 anos já era aposentado por uma grave doença que possui, tentou ajudar aparentemente um menino que estava sendo agredido e acabou sendo recolhido ao presídio. Sorte ou azar? Talvez tenha sido melhor ele ter sido preso e não ter usado a arma, do que ter que usá-la e não ter condições para tanto. Arma de fogo com civis é um assunto sério, e só aqueles que se mantém treinados devem usar desse recurso para proteger-se, do contrário, a melhor defesa é a prevenção. Quando uma situação de risco acontece, a população deve confiar no trabalho policial e nunca agir por conta própria, pois do contrário essa conta pode sair muito cara.

Infelizmente nada pude fazer em prol do senhor a não ser seguir a letra fria da lei. Sei que a sua intenção foi boa, mas um crime foi cometido. Esse senhor nunca teve nenhum registro de ocorrência, nem mesmo de perda de documento, e na ânsia de ajudar, acabou indo ao presídio. Não gostei muito de ter feito esse trabalho, mas às vezes a lei se mostra injusta e nada podemos fazer a respeito.

Durante a lavratura desse auto de prisão em flagrante, recebemos um chamado sobre um incêndio. Felizmente ninguém saiu ferido, pois haviam acabado de sair da casa, e aparentemente não houve indícios de que tenha sido criminoso. Assim, apenas fomos ao local, fizemos um levantamento fotográfico, conversamos com as testemunhas e voltamos à Delegacia para terminar o trabalho iniciado.

Durante a tarde a Polícia Rodoviária Federal me ligou para sanar uma dúvida sobre um caso na estrada. Um homem estaria guiando um carro de uma Prefeitura de SC sem autorização. Embora o carro não tivesse qualquer irregularidade, a atividade era no mínimo suspeita, já que o motorista alegava que havia comprado o carro de uma concessionária e na verdade qualquer bem público só pode ser vendido, a princípio, mediante leilão. Recebidas as partes na DP, conseguimos contato com a empresa que havia adquirido o bem da Prefeitura e recebemos a cópia da ata de leilão, resolvendo nosso impasse. Mas quando tudo parecia estar resolvido, o advogado do motorista apareceu para tumultuar o plantão. Por sorte ele não insistiu muito em seu intento, já que consegui conversar com ele e acalmar os ânimos, terminando assim o registro da ocorrência.

Levamos o preso ao presídio, jantei por lá (a comida estava muito boa!) e depois fomos levar os autos à escrevente do Judiciário, para que ela levasse ao juiz de plantão posteriormente. No meio do caminho, ouvimos pelo rádio que um senhor havia sido encontrado morto. Tinha mais de 70 anos e faleceu a princípio de parada cardíaca. Chamado o DML, os sinais visíveis eram de morte natural mesmo, devido talvez ao abuso no uso de medicamentos (pressão, viagra, diabete, etc). O corpo ainda assim foi recolhido para necropsia, a fim de retirar toda e qualquer dúvida.

Retornando à DP, ao mesmo tempo praticamente, recebemos a BM trazendo dois traficantes de drogas. O primeiro deles possuía um pote contendo 26 pedras de crack e uns R$ 60,00 em notas trocadas. Ao indagá-lo, num primeiro momento, afirmou que nada estava com ele, que teria a Polícia Militar plantado a prova; depois, ao ver que eu faria o flagrante, tentou contar que era usuário, e que a droga lhe pertencia. Ou seja, contou duas histórias diferentes para o mesmo fato. Por fim, num ato de desespero, ainda tentou argumentar que era réu primário, mas ele tem apenas 18 anos e poucos meses e todo bandido algum dia já foi réu primário. Não seria esse o motivo que o livraria da prisão.

O outro foi um pouco mais complicado, pois as versões não batiam. Na verdade os Policiais Militares eram uníssonos, o traficante e suas testemunhas é que não se entendiam. Esses usuários de droga às vezes me irritam um pouco. No momento em que são presos, dizem orgulhosos que são usuários, na tentativa de se livrarem do flagrante, para serem beneficiados por nossa lei que é falha nesse sentido. A lei antidrogas prevê a pena absurda de advertência ao usuário de drogas. Ou seja, se alguém é pego usando drogas, a pena aplicada a ele será um simples aviso dado pelo juiz sobre os males das drogas. Me pergunto: qual a finalidade dessa pena? Alguém vai deixar de se drogar só porque um juiz o advertiu? Na maior parte das vezes eles destroçam suas famílias, vêem suas mães chorando e não se comovem, não seria um desconhecido o advertindo que mudariam suas atitudes. Enfim, para não desviar muito do caso trazido a nós, acabei por fazer o flagrante, já que o acusado possuía consigo uma balança de precisão (com marcas de pedras de crack que haviam sido cortadas nela), 39 pedras de crack e ainda R$ 210,00. Segundo contou esse dinheiro foi dado por sua mãe para que comprasse roupas, mas o esperto foi comprar drogas. Apesar de já ter sido internado diversas vezes pelo uso da droga, dessa vez os fatos conspiraram contra si e a situação de uso não restou configurada, ocorrendo o recolhimento à prisão.

Após isso, a noite foi bem tranqüila. Recebi apenas mais um chamado sobre um acidente de veículo envolvendo uma moto com atropelamento de pedestres, sem lesões graves. Mas nesse caso apenas coube a nós registrar os fatos e remeter à Delegacia de Delitos de Trânsito para uma investigação mais apurada dos fatos.      

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Quarta, 7 de setembro de 2011


O clima era de muita festa, sobretudo porque teríamos desfile de 7 de setembro. Conseguimos reunir 13 viaturas para o evento, uma equipe tática para ficar em cima de uma das nossas camionetes e o apoio de várias crianças, filhos de nossos policiais. Isso deu um ar de seriedade, mas também passou ao público a ideia de que apesar de policiais, todos temos uma família que se preocupa conosco, que nos ampara nos momentos difíceis, que se faz presente nas horas de alegria. Foi o primeiro desfile que eu tive que organizar, mas não foi nada difícil, apenas participei de todas as reuniões sobre o tema, e enviei por email a todos a programação, nosso itinerário, e o que mais fosse importante de ser dito. Assim, chegado o grande momento, todos já sabiam o que fazer e como se portar; só tive o trabalho de alinhar as viaturas na ordem em que eu queria. Iniciado o desfile, foi impressionante ver a quantidade de pessoas que acordaram cedo para acompanhar o evento, o número de crianças abanando e mandando beijo. Ali me senti querido e respeitado ao mesmo tempo. Não houve protesto contra o governo ou contra a instituição, portanto, tudo correu bem e como o planejado. Terminado o desfile, recebi ligação da chefe informando que todos os que estavam na área de autoridades haviam gostado e teceram muitos elogios a respeito, mas o que me deu uma alegria maior foi ver que aqueles que participaram do desfile estavam satisfeitos.

Acabada a hora da festa, iniciamos os trabalhos policiais, voltamos à velha rotina. Para comemorar o dia 7 de setembro, nada melhor que 7 prisões em flagrante (um número fora do comum para o que estávamos vivendo nesse inverno, quando abaixam os números de prisões).

Primeiro. Um homem seguidamente ameaçava sua companheira. Ela já havia feito diversos registros de ocorrências e pedido inclusive por duas vezes as medidas protetivas que a Lei Maria da Penha lhe assegura e mesmo assim o rapaz continuava a incomodá-la. Assim, não me restou opção a não ser o recolhimento para o presídio, sobretudo porque certas pessoas acreditam que são inatingíveis, que as coisas só acontecem com o vizinho, pensam no descrédito total das instituições públicas. Isso não pode continuar assim, se um juiz determinou o afastamento do homem, ele deve ficar afastado e ponto. Discussões sobre se a medida protetiva foi ou não excessiva deve ser feita através de advogado.

Segundo. Roubo na rodoviária. O acusado sentou-se ao lado da vítima, pediu-lhe um cigarro, como forma de despistar o seu intento. Pouco tempo depois, aplicou uma gravata e pegou o relógio da vitima e saiu do local, porém o segurança deteve o assaltante e chamou a Brigada, que o trouxe à DPPA. Aqui contou, podre de bêbado, que não havia roubado, mas que na verdade conhecia a vítima e que o que houve foi apenas uma desavença entre eles. Optei pela prisão, deixando a ele a possibilidade de defesa perante o juiz que cuidará do caso.

Terceiro. Furto mediante destreza, contra idoso de 83 anos. Aproveitando-se das festividades e da desatenção da vítima, o larápio enfiou a mão no bolso e retirou o celular da vítima, saindo caminhando logo depois. Com a descrição do celular e do suspeito, a BM fez buscas e o encontrou fazendo ligações. Na Delegacia confessou o crime, contando que praticou o crime por estar desempregado e dizendo que começou essa vida de crimes após a morte de um filho. Como, apesar de triste sua história, não há justificativa pelo fato delituoso praticado, ele foi levado à prisão.

Quarto. Tentativa de furto de som automotivo. O acusado entrou em um carro que havia sido furtado pela manhã para levar o som e acabou sendo pego pela Brigada Militar. Imaginem o azar desse sujeito. Vê o carro estacionado em local ermo, ingressa nele sem saber que o veículo estava no sistema como furtado para levar o som. A BM o levou como no mínimo receptador, mas como ele já havia retirado o som, foi plausível a versão de que não teria furtado o veículo, nem sabia a sua origem criminosa. Assim, respondeu apenas pela tentativa de furto do cd automotivo. Nossos acusados sabem tanto de direito que ele veio pedindo para eu não autuá-lo por furto qualificado, mas apenas por furto simples, o que foi feito, já que não havia provas de que ele teria furtado o veículo no início do dia.

Quinto. Roubo de bicicleta com uso de faca de cozinha. O autuado foi avistado pouco tempo depois com a bicicleta e o boné da vítima, acompanhado de um menor. A vítima compareceu à Delegacia e afirmou que apenas o maior teria praticado o roubo, então apenas colocamos o menor como testemunha do fato e mandamos à prisão somente o adulto, que já possuía outros crimes em sua história.

Sexto. Sequestro relâmpago. Esse caso trouxe bastante repercussão, ainda mais porque não é um modo de operação comum na cidade. Na verdade não foi um sequestro premeditado, uma moto se aproximou da vítima e o carona desceu para roubá-los, exigiu o dinheiro ao motorista (pai), mas como a vítima não tinha nada no momento, sugeriu ao ladrão que o acompanhasse até um banco para que sacasse a quantia pretendida. Assim, o que era para ser um roubo simples, tornou-se o sequetro relâmpago. Pediu que o motorista fosse ao banco do carona e dirigiu o carro até um supermercado para que fosse retirado o dinheiro do caixa. Com medo de que a vítima chamasse a polícia, deu partida no veículo e dirigiu-se a outra cidade. No meio do caminho deixou a filha (menor de 12 anos) do proprietário do carro e fugiu. Com a aproximação muito rápida do veículo, e também pela notícia do roubo já latejando no rádio, com a descrição do veículo, iniciou-se uma perseguição e o ladrão foi preso. Aqui confessou o crime, reconhecendo a derrota. Ao menos teve a honra de assumir o erro, coisa que poucos fazem quando chegam aqui. Além disso, era foragido do sistema penitenciário, portanto foi feito, além do APF, também o cumprimento do mandado de prisão (ainda que sem querer).

Sétimo. Para finalizar o plantão, às 6:51hs, recebemos o 7º flagrante. Um furto com escalada e remoção de telhas. O bandido subiu pelo telhado com o auxílio de um menor e no momento em que estavam saindo com a sacola de roupas da loja foram pegos pela Polícia Militar. O menor, por ter praticado um crime sem violência ou grave ameaça, foi devolvido a um parente, mas o maior passará ao menos um dia na cadeia.

Foi bem cansativo, mas fizemos a diferença nesse dia! Pudemos colocar na prisão aqueles que não sabem conviver em sociedade, aqueles que precisam ver o sofrimento alheio para sobreviver, que necessitam criar a desgraça para se alimentarem. Enfim, cansado, mas satisfeito.

domingo, 4 de setembro de 2011

Sexta, 2.09.11 - Grupo de extermínio?


O dia amanheceu com um Sol perfeito para quebrar o frio que estávamos sentindo nos últimos quatro meses, e parecia que o plantão seria tão bom quanto o dia que estava por começar. Não ficou nenhuma pendência da madrugada, ninguém no xadrez para ser conduzido ao presídio, nada para ser assinado de última hora, nenhum corpo encontrado nas ruas. Enfim, tudo favorável a uma boa sexta-feira.

Hoje recebi os materiais para nossa pesquisa de opinião, com banner, urna e tudo o mais! Segunda-feira começaremos os trabalhos, quero só ver se terei paciência para ler todos os argumentos e opiniões que forem depositados, e se poderemos atender aos anseios da comunidade, mas já é um passo importante para ver como nosso trabalho está sendo visto pelo público.

Entrei em contato com o Exército Brasileiro e consegui apoio para remover um outdoor de um espaço e instalá-lo em uma praia local, tudo para divulgar o nome da Polícia Civil. O lema que eu criei (não sei se existe outro parecido, mas juro que não copiei de nenhum lugar) é: “Sempre presente”. Assim, colocaremos o símbolo da PC, com os dizeres logo abaixo, e juntaremos umas fotos de operações realizadas. Acredito que será simples e de fácil entendimento, porém com um impacto importante para o futuro. Ações assim, deverão ser repetidas se forem bem sucedidas. Ainda não tenho o apoio dos superiores, pois quero chegar com o material pronto para apresentar, ao invés de ficar apenas no plano das ideias. Até quinta-feira quero ter o material pronto para ser instalado, tomara que dê tudo certo.

Também tenho um projeto de conseguir uma máquina de recarga de munições para a nossa região. Pelo que conversei com especialistas (instrutores de tiro da Academia de Polícia), essa é uma missão quase impossível dada a complexidade para se obter a licença para o manuseio, bem como para conseguir recursos para operacionalizar o empreendimento. Entretanto, isso me deu uma vontade ainda maior de conseguir êxito. Precisamos de um treinamento constante, para que na hora que precisarem de nós, estejamos sempre preparados, diminuindo assim a possibilidade de falhas (já que elas sempre ocorrem). Se o risco zero não existe, temos que tentar diminuí-lo, para que não aconteçam baixas do nosso lado principalmente, mas também do outro, já que a nossa intenção nunca é de matar, sim de prender.

Outra Delegacia realizou uma grande operação de repressão ao tráfico de entorpecentes em um bairro conhecido por abrigar alguns traficantes. O tráfico de drogas é um crime de difícil combate, uma vez que a materialidade do crime (droga) é de fácil esconderijo ou descarte, dependendo da situação. Ainda assim, fizeram a prisão em flagrante de um deles. Esse tipo de crime é como enxugar gelo, onde retiramos um de circulação, aparecem outros para cumprir a atividades daquele que foi preso, mas não podemos desistir, e temos que continuar nessas operações, para, se não acabarmos com esse mal, diminuí-lo ao máximo. A luta continua.

Outro caso foi o do ladrão chorão. Ele foi pego pela própria vítima, dentro do quintal desta, enquanto tentava arrombar sua porta. Com a reação da vítima (muito maior que o bandido), ele foi pego e, logo após, foi acionada a Polícia Militar, que o conduziu até a Delegacia, onde foi lavrado o Auto de Prisão em Flagrante. Este acusado reclamava e muito por ter sido preso, e contou a mais ilusória das histórias, na tentativa de ludibriar meu entendimento sobre o caso e liberá-lo. Contou que namora com uma mulher e um cara, que não sabe quem é, tem muito ciúmes dela, e na noite teria se armado com um revólver e o perseguido para matá-lo. Na fuga, ele acabou entrando na residência alheia, como forma de escapar, e ao pedir ajuda ao proprietário, este achou que estaria sendo furtado e o segurou. Entretanto, o passado dele o “condena”, pois apresenta extensa ficha de furtos a residências, o que me fez decidir pela prisão, ao menos nesse primeiro momento, já que posteriormente ele irá se defender perante o juiz e poderá provar a versão fantasiosa contada a mim.

Ainda prendemos um taxista que portava uma arma de fogo furtada e ainda fazia o tráfico de drogas. Quanto à arma, contou que seria para sua proteção (embora soubesse que é errado portar armas), mas não soube explicar a procedência criminosa dela. Com relação ao tráfico, alegou que de vez em quando usa alguma droga, na tentativa de se passar por usuário, já que também foi encontrada apenas pequena quantidade de maconha no veículo. O único problema foi o celular que estava com ele e que foi apreendido pela Brigada Militar. Além de diversas mensagens que chegavam no momento em que registrávamos a ocorrência, ainda atendemos o aparelho para verificar o teor da ligação, e um homem pedia que ele lhe levasse uma de 20 (utilizando-se de códigos) para um determinado local. Esse foi taxi drug driver. Não imaginam a cara de pau dele tentando afirmar que as ligações não tinham relação com trafico nenhum. Um a menos em circulação, e vamos continuar nesse combate!

Para finalizar o dia, aquele que havia começado tranquilo, recebemos uma ligação contando sobre um homicídio. Vou contar como se deram os fatos. Onze horas da noite a vizinhança ouve o estouro de um gerador de energia elétrica, ficando toda a quadra às escuras. As pessoas saem das residências para verificar o motivo do barulho e da falta de luz, mas nada de diferente é notado. A nossa testemunha deixa o seu companheiro (que possui dificuldade de locomoção) na cama, sai e rapidamente volta para casa, acendendo uma vela para que esperassem o retorno da energia. Porém, o que acontece são gritos vindos de fora, seguidos de barulhos de disparos de arma de fogo. Com medo, se recolhem ainda mais na cama, esperando que não fosse nada além de um susto, entretanto, entra na casa um rapaz pedindo por socorro, afirmando que pessoas estariam atrás dele, tentando matá-lo. Ele tenta sair pela janela, mas como não consegue, resolver esconder-se debaixo da cama. Inútil a tentativa. Seus algozes o perseguem sem piedade, estão todos encapuzados e fortemente armados. De supetão entram no quarto do casal e lhes perguntam onde está o rapaz que entrou no recinto há pouco. Diante do silêncio dos dois, resolvem vasculhar o lugar e levantam a cama jogando ambos ao chão. Encontram a vítima indefesa, deitada de barriga para baixo, sem esboçar qualquer reação, e sem perguntar nada, começam a desferir os tiros. Ao todo foram ao menos 8 tiros nas costas e outros 5 no rosto. Como sói acontecer nesses casos, ninguém da vizinhança viu nada, e as testemunhas oculares do fato pouco sabem, já que se defendem afirmando que no momento em que foram arremessados ao chão, ficaram encolhidos no canto sem olhar para cima, por temer pela própria vida.

Chegamos ao local totalmente às escuras, as únicas coisas que nos iluminavam eram a Lua, o giroflex das viaturas e algumas lanternas. Acionada a perícia,  começou-se um minucioso trabalho, para tentar identificar quem teria cometido ato tão bárbaro. As pessoas que o mataram pareciam pertencer a um grupo de extermínio, o motivo para essa morte deve ser muito grave tamanha a crueldade utilizada para tanto. Outra Delegacia fará a investigação e tentará ouvir os vizinhos, alguém tem que ter visto o que se passou. Não é possível que 5 pessoas matem outra com uma grande quantidade de disparos, e saiam caminhando sem que ninguém os note (apesar da escuridão).

O trabalho não demorou mais de três horas, mas o cansaço emocional em casos como esse é muito grande. Fiquei totalmente esgotado quando retornei à Delegacia, esperando que nada mais acontecesse na noite, e de fato nada mais ocorreu, o que havia passado já era o suficiente para o meu dia “tranquilo”.