Dia 31 de outubro, aproximadamente 23:00 horas. Quatro
pessoas saem de uma cidade vizinha com o intuito de praticar roubos a
pedestres. Dois deles se armam de revólveres, o terceiro dará o apoio necessário
e o quarto elemento ficará como motorista do grupo. Passam por um, por outro, até
que escolhem a próxima vítima, um garoto de 16 anos. O motorista para o carro
a uma quadra de distância e observa de longe a ação dos amigos. Aquele que
está desarmado anuncia o assalto e segura a vítima pelas costas, enquanto os
outros dois lhe apontam as armas. Porém, a vítima não aceita ser roubada, e
inicia uma reação, principalmente contra aquele que lhe segurava pelas costas.
Com isso, consegue se soltar, mas sem ficar realmente livre. Acreditou, em vão,
que havia se desvencilhado da ação criminosa, porque instantes depois recebeu o
primeiro tiro na barriga, que lhe perfurou órgãos vitais. Caído no chão, já
agonizava quando recebeu outro disparo de arma vindo do segundo ladrão. Todos
conseguiram entrar no carro e fugir. A vítima não morreu (e tomara que não aconteça), mas já faz um mês que
está na UTI. E aqui vale de novo a lembrança: não resistir à ação depois que
ela foi iniciada. É melhor perder os anéis e ficar com os dedos.
A Polícia não tinha nenhuma informação de quem poderia ter
praticado tal fato, sequer qual a motivação. E iniciou as investigações. Com
muito esforço, a Delegacia de repressão aos crimes contra crianças e
adolescentes conseguiu descobrir quem seriam os criminosos. E no começo do meu
plantão, haviam saído para cumprir os mandados de busca e apreensão e de prisão
expedidos. Na operação foram presas cinco pessoas. Três delas por terem armas
em seus poderes, seja em casa debaixo do colchão ou em cima do armário ou no
carro debaixo do banco do carona. Ouvimos todos e quase ninguém contou o que
tinha feito. Mentiras e mais mentiras, até que um deles, resolveu contar o que aconteceu.
Fiz a prisão em flagrante de todos os que tinham armas. E
também fiz um pedido de prisão preventiva pela suspeita de terem participado do
roubo quase seguido de morte acima referido. E fiquei muito feliz por ter
conseguido. A correria foi grande, deixei de almoçar, e fiquei a tarde inteira
nessa função, que foi coroada com a obtenção da ordem de prisão para mantê-los
no presídio não apenas pelo porte das armas, mas também, e principalmente, pelo
hediondo crime. Ocorre que, infelizmente, por uma falha de comunicação do fórum com o
presídio, esse mandado de prisão não chegou a tempo de o presídio mantê-los presos, e somado a isso, ainda o juiz que estava de
plantão entendeu por não conceder a prisão preventiva que havia pedido e liberar os anjinhos.
Isso mesmo, após toda essa narrativa, eles acabaram soltos, porque para o entendimento do juiz, o simples ato de portar arma não é crime grave. Para mim existem casos e casos. Por exemplo, um segurança de supermercado armado oferece menos risco para a população de bem do que os três que sairam para roubar. Mas cada cabeça é uma sentença, e não temos o poder de controlar os entendimentos de todos, por mais que façamos esforço. Nos resta agora
correr atrás de novo para trancafiá-los de novo, e espero que por muito tempo desta vez. Existem duas decisões, uma que mandou soltar e outra que manda prender, e a sorte dos criminosos é que a primeira chegou antes no presídio.
Depois dessa lamentável notícia, o show tinha que continuar. Fui com a Viatura
da Volante para prestar apoio a um advogado conhecido nosso que nos ligou
contando que o filho havia sido assaltado com o uso de uma faca. Todos entraram
na viatura e passamos a percorrer os mais diversos e tortuosos caminhos, por
bairros humildes da cidade, onde a vítima acreditava estariam os três elementos
que lhe renderam e levaram sua mochila. Não foi dessa vez. Voltamos à Delegacia
de mãos vazias, somente para fazer o registro do fato.
Tivemos ainda uma embriaguez ao volante, crime de baixa
importância, se considerarmos os já citados hoje e também o que finalizaria o meu plantão, por
isso deixo de contar os pormenores. O último crime que cuidamos foi também um
roubo. Dois marginais entraram em um mercadinho e renderam o dono, pedindo
dinheiro. Cansado de tanto ser roubado, o proprietário não acatou às imposições
e resistiu. Então, os criminosos resolveram apontar a arma para a cabeça da
filha de 10 anos do comerciante. Não vale a pena perder a vida ou ter a filha
morta por causa de alguns objetos! Deixem que levem o que for, que a Polícia
certamente os encontrará, cedo ou tarde. Por sorte foi cedo que eles foram
encontrados. Acabaram presos e
confessaram o crime. Parecia que não tinham feito nada demais, não estavam nem
um pouco alterados, já acostumados à vida que escolheram viver, de entra e sai
da cadeia. Quando será que decidem que é hora de parar? Enquanto não se posicionam, vamos prendendo!