sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Quarta, 7 de setembro de 2011


O clima era de muita festa, sobretudo porque teríamos desfile de 7 de setembro. Conseguimos reunir 13 viaturas para o evento, uma equipe tática para ficar em cima de uma das nossas camionetes e o apoio de várias crianças, filhos de nossos policiais. Isso deu um ar de seriedade, mas também passou ao público a ideia de que apesar de policiais, todos temos uma família que se preocupa conosco, que nos ampara nos momentos difíceis, que se faz presente nas horas de alegria. Foi o primeiro desfile que eu tive que organizar, mas não foi nada difícil, apenas participei de todas as reuniões sobre o tema, e enviei por email a todos a programação, nosso itinerário, e o que mais fosse importante de ser dito. Assim, chegado o grande momento, todos já sabiam o que fazer e como se portar; só tive o trabalho de alinhar as viaturas na ordem em que eu queria. Iniciado o desfile, foi impressionante ver a quantidade de pessoas que acordaram cedo para acompanhar o evento, o número de crianças abanando e mandando beijo. Ali me senti querido e respeitado ao mesmo tempo. Não houve protesto contra o governo ou contra a instituição, portanto, tudo correu bem e como o planejado. Terminado o desfile, recebi ligação da chefe informando que todos os que estavam na área de autoridades haviam gostado e teceram muitos elogios a respeito, mas o que me deu uma alegria maior foi ver que aqueles que participaram do desfile estavam satisfeitos.

Acabada a hora da festa, iniciamos os trabalhos policiais, voltamos à velha rotina. Para comemorar o dia 7 de setembro, nada melhor que 7 prisões em flagrante (um número fora do comum para o que estávamos vivendo nesse inverno, quando abaixam os números de prisões).

Primeiro. Um homem seguidamente ameaçava sua companheira. Ela já havia feito diversos registros de ocorrências e pedido inclusive por duas vezes as medidas protetivas que a Lei Maria da Penha lhe assegura e mesmo assim o rapaz continuava a incomodá-la. Assim, não me restou opção a não ser o recolhimento para o presídio, sobretudo porque certas pessoas acreditam que são inatingíveis, que as coisas só acontecem com o vizinho, pensam no descrédito total das instituições públicas. Isso não pode continuar assim, se um juiz determinou o afastamento do homem, ele deve ficar afastado e ponto. Discussões sobre se a medida protetiva foi ou não excessiva deve ser feita através de advogado.

Segundo. Roubo na rodoviária. O acusado sentou-se ao lado da vítima, pediu-lhe um cigarro, como forma de despistar o seu intento. Pouco tempo depois, aplicou uma gravata e pegou o relógio da vitima e saiu do local, porém o segurança deteve o assaltante e chamou a Brigada, que o trouxe à DPPA. Aqui contou, podre de bêbado, que não havia roubado, mas que na verdade conhecia a vítima e que o que houve foi apenas uma desavença entre eles. Optei pela prisão, deixando a ele a possibilidade de defesa perante o juiz que cuidará do caso.

Terceiro. Furto mediante destreza, contra idoso de 83 anos. Aproveitando-se das festividades e da desatenção da vítima, o larápio enfiou a mão no bolso e retirou o celular da vítima, saindo caminhando logo depois. Com a descrição do celular e do suspeito, a BM fez buscas e o encontrou fazendo ligações. Na Delegacia confessou o crime, contando que praticou o crime por estar desempregado e dizendo que começou essa vida de crimes após a morte de um filho. Como, apesar de triste sua história, não há justificativa pelo fato delituoso praticado, ele foi levado à prisão.

Quarto. Tentativa de furto de som automotivo. O acusado entrou em um carro que havia sido furtado pela manhã para levar o som e acabou sendo pego pela Brigada Militar. Imaginem o azar desse sujeito. Vê o carro estacionado em local ermo, ingressa nele sem saber que o veículo estava no sistema como furtado para levar o som. A BM o levou como no mínimo receptador, mas como ele já havia retirado o som, foi plausível a versão de que não teria furtado o veículo, nem sabia a sua origem criminosa. Assim, respondeu apenas pela tentativa de furto do cd automotivo. Nossos acusados sabem tanto de direito que ele veio pedindo para eu não autuá-lo por furto qualificado, mas apenas por furto simples, o que foi feito, já que não havia provas de que ele teria furtado o veículo no início do dia.

Quinto. Roubo de bicicleta com uso de faca de cozinha. O autuado foi avistado pouco tempo depois com a bicicleta e o boné da vítima, acompanhado de um menor. A vítima compareceu à Delegacia e afirmou que apenas o maior teria praticado o roubo, então apenas colocamos o menor como testemunha do fato e mandamos à prisão somente o adulto, que já possuía outros crimes em sua história.

Sexto. Sequestro relâmpago. Esse caso trouxe bastante repercussão, ainda mais porque não é um modo de operação comum na cidade. Na verdade não foi um sequestro premeditado, uma moto se aproximou da vítima e o carona desceu para roubá-los, exigiu o dinheiro ao motorista (pai), mas como a vítima não tinha nada no momento, sugeriu ao ladrão que o acompanhasse até um banco para que sacasse a quantia pretendida. Assim, o que era para ser um roubo simples, tornou-se o sequetro relâmpago. Pediu que o motorista fosse ao banco do carona e dirigiu o carro até um supermercado para que fosse retirado o dinheiro do caixa. Com medo de que a vítima chamasse a polícia, deu partida no veículo e dirigiu-se a outra cidade. No meio do caminho deixou a filha (menor de 12 anos) do proprietário do carro e fugiu. Com a aproximação muito rápida do veículo, e também pela notícia do roubo já latejando no rádio, com a descrição do veículo, iniciou-se uma perseguição e o ladrão foi preso. Aqui confessou o crime, reconhecendo a derrota. Ao menos teve a honra de assumir o erro, coisa que poucos fazem quando chegam aqui. Além disso, era foragido do sistema penitenciário, portanto foi feito, além do APF, também o cumprimento do mandado de prisão (ainda que sem querer).

Sétimo. Para finalizar o plantão, às 6:51hs, recebemos o 7º flagrante. Um furto com escalada e remoção de telhas. O bandido subiu pelo telhado com o auxílio de um menor e no momento em que estavam saindo com a sacola de roupas da loja foram pegos pela Polícia Militar. O menor, por ter praticado um crime sem violência ou grave ameaça, foi devolvido a um parente, mas o maior passará ao menos um dia na cadeia.

Foi bem cansativo, mas fizemos a diferença nesse dia! Pudemos colocar na prisão aqueles que não sabem conviver em sociedade, aqueles que precisam ver o sofrimento alheio para sobreviver, que necessitam criar a desgraça para se alimentarem. Enfim, cansado, mas satisfeito.

Um comentário:

  1. Parabéns,
    Embora pelo que leio, sei que não precisas de felicitações...
    Mas parabéns. Pela coragem, pela determinação, pela consciência, pela iniciativa e porque não pela inspiração? Rsrsrs
    É bom ver que existem pessoas que têm razão e sensibilidade aliadas num cargo que precisa delas, sem se olvidar da rigidez e dos princípios que ela prega.
    Fico feliz e esperançosa em saber que existem pessoas como tu. Que tem consciência do poder que tem e da justiça que pode alcançar com ele...
    Peço por favor, que não mudes.
    Ganhastes uma leitora e uma admiradora desse fantástico trabalho.
    Abraços!

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