quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quinta, 22.9.11 - Algumas munições

Mais uma vez comecei o dia despachando as ocorrências registradas no dia anterior. Isso sempre ocorre quando fazemos plantão durante a semana, quando estão abertas as demais Delegacias e também a nossa Secretaria. E como sempre, terminei de rabiscar em pouco tempo, um par de horas e tudo já estava devidamente assinado.
E não tardou muito para recebermos o primeiro caso a ser solucionado. Em uma abordagem de rotina nos rios da região, a Brigada Militar, ao se aproximar de um barco, viu que os tripulantes jogaram na água algum objeto, o qual não souberam precisar. Ordenaram, então, que o barco parasse, e subiram nele para fazer uma revista mais precisa. Lá encontraram alguns poucos peixes e perguntaram o que teriam atirado para fora da embarcação. Os tripulantes ficaram silentes, e como não havia mais nada de irregular, seriam todos liberados. Entretanto, no momento em que desembarcavam, perceberam que um deles tentava esconder um barril ou algo dentro dele. Ao averiguarem, encontraram mais de 80 munições calibre 12 e algumas calibre 22. Essas munições servem para a caça de pequenos animais, mas o porte delas, apesar de comum, é proibido, permitindo-se apenas àqueles que tiverem autorização legal para tanto. Como o senhor de 72 anos, nem seus filhos a possuíam, acabamos por autuá-los em flagrante. Por sorte, pagaram fiança e poderão responder ao processo em liberdade.
Outro caso inusitado foi o do motoboy que foi parado pela Polícia Militar por suspeitas de tráfico de drogas. Porém, o que havia em sua mochila era vários envelopes plásticos com vários nomes neles e uma boa quantia de dinheiro. Chegando na Delegacia, confessou que foi buscar o material para seu padrasto, que é envolvido com o jogo do bicho. Por não ser um crime grave, apenas registramos os fatos e liberamos as partes.
Ainda tivemos um acusado de furto em loja de departamento. O objeto do furto foi uma bermuda no valor de R$ 70,00. Ao ser indagado, falou que está desempregado e passando fome, mas porque motivos teria tentado levar a bermuda? Se realmente fosse a fome, até ele sair da loja, encontrar um comprador e sair para comprar a bendita comida, já teria sucumbido. Óbvio que não era esse o motivo da sua tentativa de furto, sobretudo por estar bem arrumado. Nesses casos, apesar de errado, ainda assim, não costumo autuar em flagrante e encaminhar à prisão, mas especificamente aqui, não me restou escolha. A reiteração de condutas dele era impressionante, e o que não pode acontecer é haver descrédito nas instituições públicas. Atualmente vivemos uma época em que os funcionários públicos em geral estão todos desacreditados, e somando a isso, temos a certeza da impunidade na cabeça do bandido. Se não tomamos algumas atitudes, o mundo tende a piorar. Em casos de baixo valor, onde não há violência, a princípio, não devemos prender a pessoa, mas mostrar o caminho correto. Todavia, quando este não aprende o caminho, mesmo após todas as oportunidades que lhe foram dadas, não nos resta opção a não ser a clausura.
E mais uma vez atendemos ocorrência de furto arrombamento. Mas dessa vez o caso foi inusitado. O invasor conseguiu ingressar na residência e estava levando as coisas quando passou em frente à casa um senhor interessado em alugá-la (por haver uma placa em sua frente). Ao perceber que havia alguém dentro do local, o senhor se aproximou para perguntar maiores detalhes, mas se deparou com a porta arrombada e com o rapaz dentro dela com vários bens dentro de sacolas. Acabou prendendo ele em flagrante! Para aqueles que não sabem, qualquer do povo pode prender em flagrante alguém que esteja praticando algum delito, enquanto que os policiais devem fazê-lo. Também é preciso deixar claro que todo cuidado é pouco, não vale a pena se arriscar se não for o seu dever agir de modo a deter um meliante. Mas nesse caso específico, felizmente, tudo deu certo e houve a prisão. A vítima ficou muito agradecida ao senhor, por ter recuperado os seus bens (acho que ela deveria dar um desconto no aluguel da casa que ele estava interessado).
Por fim, um furto de 10 barras de chocolate em um minimercado. A ladra foi pega próximo ao local, com uma mala pronta para viajar para a capital. Ao ser indagada, narrou que iria vender as guloseimas para levantar um dinheiro para custear a viagem, e que só queria voltar para casa. Acabei não fazendo esse flagrante devido ao bem furtado, e à baixa lesividade dessa conduta, mas a ladra não sabia desse lado jurídico. Conversei que daria mais uma chance, mas esse não era o caminho. Ela estava com o rosto esfolado, por ter tentado escapar da PM e ter caído no momento em que a imobilizavam, mas esse não foi o motivo que a levou a chorar. Essas pessoas têm vidas muito difíceis, e o crime certamente não é o caminho, só que muitas não escolheram esse caminho por que querem, mas por falta de opção. Temos que agir muito mais como assistentes sociais do que como policiais nessas horas, e eu gosto disso! Somos pessoas de muitas facetas, nos adequamos a qualquer situação: essa é a minha Polícia!

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