domingo, 4 de setembro de 2011

Sexta, 2.09.11 - Grupo de extermínio?


O dia amanheceu com um Sol perfeito para quebrar o frio que estávamos sentindo nos últimos quatro meses, e parecia que o plantão seria tão bom quanto o dia que estava por começar. Não ficou nenhuma pendência da madrugada, ninguém no xadrez para ser conduzido ao presídio, nada para ser assinado de última hora, nenhum corpo encontrado nas ruas. Enfim, tudo favorável a uma boa sexta-feira.

Hoje recebi os materiais para nossa pesquisa de opinião, com banner, urna e tudo o mais! Segunda-feira começaremos os trabalhos, quero só ver se terei paciência para ler todos os argumentos e opiniões que forem depositados, e se poderemos atender aos anseios da comunidade, mas já é um passo importante para ver como nosso trabalho está sendo visto pelo público.

Entrei em contato com o Exército Brasileiro e consegui apoio para remover um outdoor de um espaço e instalá-lo em uma praia local, tudo para divulgar o nome da Polícia Civil. O lema que eu criei (não sei se existe outro parecido, mas juro que não copiei de nenhum lugar) é: “Sempre presente”. Assim, colocaremos o símbolo da PC, com os dizeres logo abaixo, e juntaremos umas fotos de operações realizadas. Acredito que será simples e de fácil entendimento, porém com um impacto importante para o futuro. Ações assim, deverão ser repetidas se forem bem sucedidas. Ainda não tenho o apoio dos superiores, pois quero chegar com o material pronto para apresentar, ao invés de ficar apenas no plano das ideias. Até quinta-feira quero ter o material pronto para ser instalado, tomara que dê tudo certo.

Também tenho um projeto de conseguir uma máquina de recarga de munições para a nossa região. Pelo que conversei com especialistas (instrutores de tiro da Academia de Polícia), essa é uma missão quase impossível dada a complexidade para se obter a licença para o manuseio, bem como para conseguir recursos para operacionalizar o empreendimento. Entretanto, isso me deu uma vontade ainda maior de conseguir êxito. Precisamos de um treinamento constante, para que na hora que precisarem de nós, estejamos sempre preparados, diminuindo assim a possibilidade de falhas (já que elas sempre ocorrem). Se o risco zero não existe, temos que tentar diminuí-lo, para que não aconteçam baixas do nosso lado principalmente, mas também do outro, já que a nossa intenção nunca é de matar, sim de prender.

Outra Delegacia realizou uma grande operação de repressão ao tráfico de entorpecentes em um bairro conhecido por abrigar alguns traficantes. O tráfico de drogas é um crime de difícil combate, uma vez que a materialidade do crime (droga) é de fácil esconderijo ou descarte, dependendo da situação. Ainda assim, fizeram a prisão em flagrante de um deles. Esse tipo de crime é como enxugar gelo, onde retiramos um de circulação, aparecem outros para cumprir a atividades daquele que foi preso, mas não podemos desistir, e temos que continuar nessas operações, para, se não acabarmos com esse mal, diminuí-lo ao máximo. A luta continua.

Outro caso foi o do ladrão chorão. Ele foi pego pela própria vítima, dentro do quintal desta, enquanto tentava arrombar sua porta. Com a reação da vítima (muito maior que o bandido), ele foi pego e, logo após, foi acionada a Polícia Militar, que o conduziu até a Delegacia, onde foi lavrado o Auto de Prisão em Flagrante. Este acusado reclamava e muito por ter sido preso, e contou a mais ilusória das histórias, na tentativa de ludibriar meu entendimento sobre o caso e liberá-lo. Contou que namora com uma mulher e um cara, que não sabe quem é, tem muito ciúmes dela, e na noite teria se armado com um revólver e o perseguido para matá-lo. Na fuga, ele acabou entrando na residência alheia, como forma de escapar, e ao pedir ajuda ao proprietário, este achou que estaria sendo furtado e o segurou. Entretanto, o passado dele o “condena”, pois apresenta extensa ficha de furtos a residências, o que me fez decidir pela prisão, ao menos nesse primeiro momento, já que posteriormente ele irá se defender perante o juiz e poderá provar a versão fantasiosa contada a mim.

Ainda prendemos um taxista que portava uma arma de fogo furtada e ainda fazia o tráfico de drogas. Quanto à arma, contou que seria para sua proteção (embora soubesse que é errado portar armas), mas não soube explicar a procedência criminosa dela. Com relação ao tráfico, alegou que de vez em quando usa alguma droga, na tentativa de se passar por usuário, já que também foi encontrada apenas pequena quantidade de maconha no veículo. O único problema foi o celular que estava com ele e que foi apreendido pela Brigada Militar. Além de diversas mensagens que chegavam no momento em que registrávamos a ocorrência, ainda atendemos o aparelho para verificar o teor da ligação, e um homem pedia que ele lhe levasse uma de 20 (utilizando-se de códigos) para um determinado local. Esse foi taxi drug driver. Não imaginam a cara de pau dele tentando afirmar que as ligações não tinham relação com trafico nenhum. Um a menos em circulação, e vamos continuar nesse combate!

Para finalizar o dia, aquele que havia começado tranquilo, recebemos uma ligação contando sobre um homicídio. Vou contar como se deram os fatos. Onze horas da noite a vizinhança ouve o estouro de um gerador de energia elétrica, ficando toda a quadra às escuras. As pessoas saem das residências para verificar o motivo do barulho e da falta de luz, mas nada de diferente é notado. A nossa testemunha deixa o seu companheiro (que possui dificuldade de locomoção) na cama, sai e rapidamente volta para casa, acendendo uma vela para que esperassem o retorno da energia. Porém, o que acontece são gritos vindos de fora, seguidos de barulhos de disparos de arma de fogo. Com medo, se recolhem ainda mais na cama, esperando que não fosse nada além de um susto, entretanto, entra na casa um rapaz pedindo por socorro, afirmando que pessoas estariam atrás dele, tentando matá-lo. Ele tenta sair pela janela, mas como não consegue, resolver esconder-se debaixo da cama. Inútil a tentativa. Seus algozes o perseguem sem piedade, estão todos encapuzados e fortemente armados. De supetão entram no quarto do casal e lhes perguntam onde está o rapaz que entrou no recinto há pouco. Diante do silêncio dos dois, resolvem vasculhar o lugar e levantam a cama jogando ambos ao chão. Encontram a vítima indefesa, deitada de barriga para baixo, sem esboçar qualquer reação, e sem perguntar nada, começam a desferir os tiros. Ao todo foram ao menos 8 tiros nas costas e outros 5 no rosto. Como sói acontecer nesses casos, ninguém da vizinhança viu nada, e as testemunhas oculares do fato pouco sabem, já que se defendem afirmando que no momento em que foram arremessados ao chão, ficaram encolhidos no canto sem olhar para cima, por temer pela própria vida.

Chegamos ao local totalmente às escuras, as únicas coisas que nos iluminavam eram a Lua, o giroflex das viaturas e algumas lanternas. Acionada a perícia,  começou-se um minucioso trabalho, para tentar identificar quem teria cometido ato tão bárbaro. As pessoas que o mataram pareciam pertencer a um grupo de extermínio, o motivo para essa morte deve ser muito grave tamanha a crueldade utilizada para tanto. Outra Delegacia fará a investigação e tentará ouvir os vizinhos, alguém tem que ter visto o que se passou. Não é possível que 5 pessoas matem outra com uma grande quantidade de disparos, e saiam caminhando sem que ninguém os note (apesar da escuridão).

O trabalho não demorou mais de três horas, mas o cansaço emocional em casos como esse é muito grande. Fiquei totalmente esgotado quando retornei à Delegacia, esperando que nada mais acontecesse na noite, e de fato nada mais ocorreu, o que havia passado já era o suficiente para o meu dia “tranquilo”.

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