terça-feira, 4 de outubro de 2011

Domingo, 2.10.11 - Latrocínio pelas costas

O domingo geralmente é bem sossegado, com algumas poucas brigas de família; os furtos quase não ocorrem, porque as lojas estão todas fechadas e assim foi durante o dia. Mas tem um crime que me persegue nos meus plantões: o homicídio.

Nesse dia de trabalho especificamente, ocorreu um latrocínio (roubo seguido de morte), e por achá-lo um caso interessante, devido às suas particularidades, contarei com detalhes como foi todo o trabalho.

Às 22:30 hs, enquanto terminava o meu jantar, recebi um chamado de que havia ocorrido um evento morte em um bairro distante do centro, já conhecido por ser violento. Assim, fiz contato com a Equipe Volante (que nesse plantão era de um homem só, já que a sua dupla estava de férias) e pedi que passasse em minha residência para melhor aproveitarmos o tempo, não deixando decorrer muito, pois o passar das horas é prejudicial para o início de uma investigação que se preze. Em apenas dez minutos recebi o toque no celular e desci ao seu encontro.

Lá dentro recebi uma notícia ruim, de que o Instituto Geral de Perícias - IGP-, não poderia atender a esse local de morte porque não se encontrava na cidade, uma vez tiveram que prestar seus serviços em outra comarca. Como todos devem imaginar - pelo menos quem assiste CSI -, a perícia é imprescindível no contexto atual, pois a prova técnica pode tornar-se mais importante que um depoimento por exemplo. Segundo conversas, só poderíamos contar com a atuação deles após as seis horas da manhã. Fiquei apreensivo, porque até que cheguem os peritos, o local de crime fica sob a nossa custódia, devendo permanecer isolado até que se completem os trabalhos.

A noite estava um pouco fria, e eu não queria ter que ficar ao léo umas sete horas esperando com o corpo aos nossos pés, com familiares na volta cobrando uma atitude de nossa parte e ainda por cima fechando a rua (se preciso, ficaria). Fizemos contato com o IGP de Porto Alegre, para ver se nos davam alguma dica de como proceder, e nos informaram que deveríamos isolar o local e esperar (para meu desânimo). Fizemos então contato com o chefe dos peritos (o salvador da pátria) que, após pequena insistência, concordou em nos ajudar, mesmo estando de folga. Ele deixou sua casa com a moto particular e deslocou-se até onde nos encontrávamos, tudo para não nos deixar na mão nesse momento de aperto. Sou muito grato à sua atitude, e isso me fez mostrar que não temos somente funcionários públicos preocupados com horários trabalhando conosco, mas sim verdadeiros interessados em brigar pela causa.

Não foi diferente com a perita do DML. Ela pegou a viatura sozinha e também foi ao local - não buscou o auxílio do outro perito que estava de sobreaviso porque dissemos que lhe ajudaríamos no que fosse preciso, tudo para dar um atendimento mais célere. Chegando lá, a Brigada Militar guarnecia o ponto. Nos deparamos com duas motos caídas no chão, e apenas um corpo esticado. Segundo narraram os populares (impossível chegar antes deles), houve uma tentativa de roubo de uma moto. A vítima, ao tentar fugir, foi alvejada por três vezes, embora tenham ouvido cinco disparos de arma de fogo (dois devem ter virado bala perdida). Conseguiu prosseguir seu caminho, na tentativa de fuga de seus algozes, mas poucos metros adiante, desfaleceu e tombou. Com a queda, e o arrasto da moto, acabou por atingir a motocicleta de um senhor que passava por ali. 

Ocorrido o crime, passamos a investigá-lo. Alinhamos as viaturas de modo a fechar o acesso pela rua e acendemos os faróis para melhor iluminar o lugar. O perito do IGP usou a nossa câmera para realizar o levantamento fotográfico e enquanto ele realizava seu trabalho, fiquei conversando com o senhor que teve a moto envolvida no acidente e quem mais pudesse dar informações precisas de onde haviam ocorrido os tiros, já que onde estávamos era apenas o local da queda do falecido.

Colhidas todas as informações, recolhemos o corpo e nos dirigimos para onde teria sido o local da abordagem inicial. Infelizmente a luminosidade era precária e não pudemos apurar melhores informações. Apenas pudemos notar na rua um desenho de amarelinha, quem sabe um mero detalhe que apontava que aquela localidade já teve dias melhores, momentos de felicidade. Os projéteis ou cartuchos não foram encontrados. O que fizemos então, foi retornar à base.

Gostei muito de me dirigir a esse local nesse dia, porque embora todas as instituições envolvidas estivessem com parcos recursos, tanto humanos quanto materiais, nossa união mostrou que ainda assim é possível fazer um trabalho bem feito. 

Continuando com a referida união, fomos até o DML, acompanhados do perito do IGP para despir o cadáver e tentar encontrar maiores pistas dos fatos, ou pelo menos tentar apurar qual foi a causa da morte. Embora todos estivéssemos com luvas nas mãos, só a perita manuseou o corpo. O Policial Civil que me acompanhava tirava as fotos, o do IGP fazia anotações, e eu ficava de curioso (ou de voluntário para o que mais se fizesse necessário).

Foram três tiros pelas costas. Um deles transfixou o braço esquerdo e se perdeu; o outro entrou na nádega direita e saiu pela barriga. Mas o que vitimou o rapaz foi um tiro que ingressou pelo lado direito e deixou o corpo próximo ao coração. Por sorte, este último, apesar de ter ultrapassado as resistências do corpo, ficou nas vestes da vítima. Importantíssimo para que possa ser feita uma perícica balística e posterior comparação a outras armas que vierem a ser apreendidas.

Já possuimos suspeitos, mas a Delegacia de Roubos irá prosseguir na investigação, e certamente encontrará o covarde que atirou, para levar uma simples moto, em mais um inocente.

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