sábado, 8 de outubro de 2011

Terça, 4.10.11 - Roubo a lotérica = prisão em flagrante

Começo do dia com a mesma história: despacho de ocorrências. Mas já pela manhã tive a minha rotina de plantão alterada por uma reunião com os comandantes da Brigada Militar e os demais Delegados de Polícia Judiciária da região.

A intenção era aparar algumas arestas, combinar uma forma de trabalho mais coesa, um modo em que pudéssemos chegar a um denominador comum, já que os nossos "inimigos" não são os pertencentes a outras instituições, e sim aqueles que transgridem a lei. Conversamos sobre diversos assuntos (eu na maior parte do tempo fiquei calado, só observando e aprendendo um pouco mais sobre o que significa Segurança Pública). Dizem que temos dois ouvidos e uma só boca porque devemos ouvir muito mais do que falar. E assim procedi, dando apenas pequenas contribuições. Terminada a roda, aproveitamos que era hora do almoço e comemos todos na mesma mesa, mostrando mais uma vez a intenção de união entre as duas casas. Isso facilita, e muito, o desenvolvimento dos trabalhos, porque além do respeito pela função de cada um, tratamos uns aos outros como amigos e colegas.

Enquanto estava na reunião em referência, recebi dois telefonemas da Delegacia: um dizia respeito a uma ameaça com vias de fato perpetrada pelo pai contra os filhos adolescentes, e outro informando que um rapaz havia sido detido portando 4 munições calibre 22. Em nenhum dos casos foi feita a prisão em flagrante, devido à baixa lesividade da conduta de cada um, embora estivessem errados. Responderão pelos crimes cometidos, mas em liberdade.

E no meu retorno à DPPA, notei que havia um menino algemado ao cano chumbado na parede para essa finalidade. Só parecia um menino, porque já contava com 19 anos, e uma extensa ficha criminal quando adolescente. Estava um pouco machucado e logo perguntei o que havia acontecido. Ele me contou que estava caminhando pela rua, próximo à sua casa quando um outro rapaz o teria agredido injustamente. Segundo esse rapaz (vítima) contou, o "menino" teria furtado a sua casa, e levado diversos bens, muito embora nada tenha sido encontrado em seu poder. Me narrou que ele é conhecido furtador da região e por esse passado, o teria agredido, tendo a certeza de que ele teria algum tipo de envolvimento com o ocorrido. Porém, como não havia uma prova mais robusta que pudesse incriminar o suspeito (apenas suspeitas da autoria), apenas fizemos o registro da ocorrência e o liberamos, na certeza de que quem é bandido não larga essa vida de um dia para o outro; se não conseguimos prendê-lo hoje, amanhã talvez. Não podemos ter pressa, agir conforme manda o ordenamento jurídico e apurar melhor os fatos é o nosso dever, para que obtenhamos uma condenação definitiva posteriormente.

E o caso mais interessante do dia ainda estava por chegar. Foi uma prisão em flagrante de um acusado de praticar roubos a estabelecimentos comerciais. Estava no gabinete quando notei que pela janela passavam diversas viaturas da Polícia Militar - e quando chegam várias ao mesmo tempo, é sinal de que alguém importante foi detido. Logo me interessei pelo que estava acontecendo e sai do meu refúgio para entender melhor o que se passava. O roubo aconteceu da seguinte maneira: dois indivíduos de capacete ingressaram em uma lotérica (aproveitando que os bancos estão em greve, e a movimentação pessoal, e obviamente, financeira aumentam) e anunciaram o assalto. As funcionárias, seguras atrás de um vidro blindado, correram para o segundo andar da loja, não esperando para ver o pior, deixando os bandidos a ver navios no meio dos clientes. Não tendo mais como roubar a lotérica, resolveram anunciar o roubo às pessoas que ali se encontravam - não foram ali, não se expuseram, para não levar nada para casa. Acabaram por levar um celular e uma certa quantia de dinheiro de duas vítimas e sairam rapidamente, já que estavam no centro da cidade (local de grande circulação e policiamento ostensivo).

Testemunhas acompanharam a movimentação de longe e conseguiram obter a placa da moto que tripulavam no momento em que empreenderam fuga. Passada a numeração para a Brigada Militar, começaram-se as buscas e em um bairro já distante do centro, conseguiram encontrar apenas um deles pilotando a moto. O outro foi deixado em algum outro lugar, pois a melhor opção de fuga para eles era a separação. Ao que tudo indica, este que desceu da moto ficou com os objetos roubados, enquanto que o outro apenas prosseguiria a corrida, levando o ciclomotor de volta à casa. No momento em que foi abordado, portava uma pistola calibre 380, e após detido, foi apresentado nesta Delegacia. O trabalho foi muito bem feito pela BM, pois conseguiram junto ao proprietário da lotérica, as filmagens e as trouxeram aqui para uma melhor análise. Não tinha como o acusado negar a participação: as roupas e o capacete eram idênticos ao do filme que eu havia acabado de ver (tanto que apreendemos inclusive sua camiseta).

Perguntado sobre como se deu o crime (e se ele seria quem teria roubado um mercado logo após), ele afirmou que roubou mesmo a lotérica, mas os minimercados são para ladrões "chinelos", tentando impor algum respeito. Tentando mostrar o quão importante era para o mundo do crime. Revistado o preso, o levamos ao xadrez e perguntamos se a arma funcionava, ao que respondeu positivamente (onde será que ela foi testada?). Ainda lá, pudemos perceber que possui uma cicatriz de recente operação no coração, ou seja, nem mesmo com a saúde debilitada ele deixou de praticar os atos criminosos. Sob ele ainda recai a suspeita de ter participado do latrocínio narrado no plantão anterior, pois além de denúncias anônimas, pediu que avisássemos no presídio para colocarem-no em ala diversa das dos irmãos da vítima do último domingo. O medo já estava batendo nele. Pena que não tem esse medo ao assaltar pessoas inocentes.

Enfim, foi uma prisão com grande repercussão e que mostrou o brilhante trabalho feito em conjunto pela sociedade, Brigada Militar e Polícia Civil. Tentamos nesses novos tempos, inserir a ideia de que a Polícia é Comunitária, e só com a ajuda da população de bem, nosso trabalho será valorizado e conseguiremos combater com mais eficiência a criminalidade. O problema da Segurança é de TODOS nós. Pessoas honestas são a maioria: não deixemos o mal vencer (nem mesmo que ele dê essa impressão, por menor que possa parecer)!

Um comentário:

  1. Bacana o relato... gostei de saber que vc tem afinado o contato com os diversos setores da segurança pública, com certeza deve estar aprendendo muito e também podendo compartilhar seus ideais. Só quem está na rua, lá na "ponta da linha", vai poder dizer quais as reais dificuldades em se garantir a lei preservendo vidas. Tenho certeza que as autoridades superiores tem evidenciado esforços para reger todos os setores de modo harmonioso e eficiente.

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