quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sábado, 8.10.2011 - Furtar idoso é sacanagem

Logo de cara, ao entrar na garagem da Delegacia, vi um guincho estacionado com dois carros sobre ele, arrebentados (em verdade um estava pior que o outro em termos de danos materiais). Previ um motorista embriagado que teria perdido o controle do carro e batido. E minhas previsões estavam corretas. Mais uma vez me deparei com um caso de embriaguez ao volante. Quando não há ninguém ferido, até tento entender, mas o que me deixa transtornado é quando aquele que transgride as regras acaba por machucar um inocente.

São tão frequentes que chega a parecer normal. Porém, não podemos nos acostumar com isso, nem se aquietar caso venham a acontecer de novo. As pessoas têm que ter mais responsabilidade, principalmente na direção de veículo automotor. Este é um dos poucos crimes em que o "criminoso" não o pratica pensando em fazer mal a outro, ou em lesar algum bem (como ocorre com o furto, roubo, homicídio e tantos outros). Pratica simplesmente por praticar, por supor que não tem outra opção, por ter vergonha de pedir carona ou voltar de taxi para casa, ou por achar que nunca nada vai acontecer com ele: até o dia em que acontece. A imprensa esteve presente e me pediu uma entrevista para falar a respeito. Expliquei à televisão que não queremos que as pessoas não se divirtam, mas que o façam com responsabilidade, pensando no próximo principalmente. Simples assim.

O golpe de um carro no outro foi tão forte que aquele que nada tinha a ver com a embriaguez acabou sofrendo múltiplas quebras pelo corpo, tendo fraturas expostas nas pernas e sendo encaminhado ao hospital. Agora o bonito que bebeu responderá ao processo criminal em liberdade (pois pagou a fiança arbitrada), enquanto que a vítima dele ficará presa a uma cama por meses até a completa recuperação. É uma inversão de consequências sem tamanho. Se beber não dirija. Leve esta frase a sério.

Tivemos também mais uma violência doméstica e familiar contra a mulher. Um neto usuário de crack não deixava a avó em paz, e quando esta se negava a lhe ajudar com comida ou mais dinheiro para sustentar o vício, este a ameaçava e quebrava os bens da residência. Foi preso alguns meses atrás pelo mesmo motivo, solto, e agora continua a praticar a mesma ação. Até onde isso vai? Não quero pagar para ver! Todas as vezes que ele for apresentado aqui, ameaçando a senhorinha, vai ao menos dormir na cadeia, vamos fazer a nossa parte para acabar com essa violência covarde que ocorre dentro dos lares.

Pouco depois de anunciar a prisão anterior ao acusado, vi que um senhor bem idoso aguardava para ser atendido. Como nossas mesas de atendimento estavam cheias, resolvi eu mesmo ajudá-lo. Estava acompanhado da filha de 15 anos, que foi útil para traduzir o alemão-português que ele falava. Em suma, me narrou que no dia anterior três pessoas teriam ido à sua casa anunciando serem da Prefeitura, e que o ajudariam a cuidar da saúde. Com esse pretexto, pediram que retirasse o casaco para melhor examinarem-no e nesse ínterim, acabaram levando sua carteira com os cartões de crédito (e a senha deles anotada em um papelzinho). Registrei o fato e poderia tê-lo dispensado, pois a Delegacia da área cuidará das investigações, mas fui além. O idoso de 94 anos mal conseguia ouvir e pouco entendia de cancelamento de cartões bancários ou "tecnologias", por isso, entrei em contato com os respectivos bancos para que fossem cancelados (espero que não tenham tido tempo de usá-los). O bom velhinho foi embora tão feliz que me convidou para pescar e ainda ofereceu o almoço. Essa é a parte boa da profissão: ajudar e ver o resultado instantâneo disso. Aqui também fica um lembrete: nunca deixem as senhas no mesmo local das coisas que elas pretendem proteger, tipo deixar a senha do computador anotada embaixo do teclado, ou mesmo as senhas bancárias na carteira. Se é fácil para nós, também será fácil para quem pretende usá-las para o mal.

Por fim, a última ocorrência relevante foi a detenção de várias pessoas que seriam, em tese, receptadoras de motos roubadas ou furtadas. No começo do dia registramos o roubo de uma moto no sistema. Mais tarde, a Brigada Militar recebeu um telefonema informando que um indivíduo estaria no local onde a moto havia sido encontrada para buscá-la, como se estivesse à procura de algo. Rapidamente lograram êxito em detê-lo, mas aqui na DPPA não tivemos como provar o vínculo dele com o crime (ao menos não naquele momento). Ainda assim, as pessoas que o acompanhavam em um carro estavam na posse de drogas (cocaína) para todos utilizarem. Essa vinda à Delegacia não sairia de graça para eles. Fizemos um simples registro de posse de drogas, mas nesse caso, inseri aquele que assumiu a propriedade delas como traficante "privilegiado", por estar induzindo as pessoas ao consumo, ainda que não visasse ao lucro ou que fose consumir em conjunto. Essa tipificação (adequação da conduta dele com um crime previsto na lei) não tem o mesmo peso de uma prisão em flagrante por tráfico, mas também não conta com a leveza da punição de advertência dada ao simples usuário. A sacada foi ótima, pois punirá o agente exatamente pelo crime que cometeu.

A madrugada foi estranhamente tranquila para um sábado a noite. Talvez tenha sido poupado pelo dia corrido que tive.

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