domingo, 2 de outubro de 2011

Sexta, 30.9.11 - Você, furtando de novo? Vamos testar uma nova abordagem.

Diferente da última segunda, essa sexta foi muito agitada! Como sói acontecer com as sextas-feiras, quase não consegui colocar a cabeça no travesseiro e dar uma respirada. Em suma, foram duas prisões em flagrante por furto arrombamento, outras duas mais por embriaguez no volante, além de outras ocorrências que não geraram prisão, dentre as quais destaco um furto a estabelecimento comercial feito por um travesti e uma diuscussão familiar sobre a guarda de uma criança de 1 ano e meio aproximadamente.

O primeiro caso de furto ocorreu já nas primeiras horas, justo na troca de plantões. O bandido entrou na residência e já havia separado todo o material para levar, porém, resolveu parar com seu intento e fazer um lanchinho. Imaginem só, em vez de sair do local o mais rápido possível, tamanha era a ousadia dele que resolveu parar para comer. Não bastava pegar alguns bens da vítima, ainda quis fazer uma boquinha, quem sabe para poder dormir tranquilo e contar o seu êxito com a barriga cheia. Esse foi o seu erro, pois a mulher que havia dormido na casa de sua filha, que mora nas redondezas, percebeu a porta forçada e chamou a Polícia Militar, que prontamente agiu e conseguiu pegar o ladrão ainda dentro da residência. A prisão em flagrante foi por furto qualificado (pelo arrombamento), na forma tentada, já que nem sequer saiu do local que havia forçado a entrada.

O outro furto foi de uma porta de madeira em um estabelecimento que estava passando por reformas. Era um antigo galpão, que havia sido abandonado pelos antigos proprietários e uma igreja evangélica o adquiriu para ampliar suas sedes. Acreditando que o lugar não possuía dono, dois meliantes ingressaram nele e estavam levando uma porta de madeira, de valor aproximado de R$ 200,00. A Polícia nem teve tanto trabalho dessa vez, pois viu ambos caminhando na rua tentando transportar o grande objeto que pretendiam vender posteriormente. E este foi o segundo caso de furto arrombamento no dia.

Além disso, fora os despachos de ocorrências e coisas administrativas, um senhor de mais de 70 anos, devido à chuva, excesso de velocidade e uma pingadinha de álcool na garganta, chocou-se contra outro veículo. Os agentes de trânsito da cidade foram acionados e, soprado o bafômetro, constatou-se o elevado índice alcoolico em seu sangue (ou no ar expelido por seus pulmões). Felizmente ninguém saiu ferido e o senhor pagou uma fiança de um salário mínimo para ser liberado e pode responder ao processo em liberdade, escapando de passar a noite dormindo (ou não) em uma cela comum.

Outro embriagado ainda tirou um pouco do nosso sono, mas da mesma forma como ocorreu anteriormente, ninguém ficou ferido, e ele foi liberado (mediante pagamento da fiança) para retornar à sua casa e pensar melhor no que fez.

Durante a tarde, recebi um outro caso para análise. Era um furto de barras de chocolate em um estabelecimento comercial feito por um travesti. Segundo as informações obtidas pelo nosso sistema, ele havia praticado outro furto, com o mesmo modo de operação, havia apenas dois dias. O flagrante havia sido feito, mas por não ser um crime grave, acabou sendo liberado pelo juiz que analisou a causa. Dessa vez, apesar da reincidência dele, fiz diferente. Em vez de prender, e mostrar a força estatal, resolvi, com a ajuda de uma policial militar conversar com essa pessoa e tentar entender o que estava acontecendo com ela, os motivos pelos quais estava praticando determinados tipos de crimes, seguindo nesse ciclo vicioso. A PM já o conhecia de outras datas, mas não por causa dos trabalhos policiais, e sim porque em um período anterior, esse homem/mulher havia sido um excelente cabeleireiro na cidade. Inclusive com cursos e experiência na Europa. Ao explicar o que o levou a praticar os crimes, chorou e narrou sua triste história. Foi à Europa para prostituir-se, e lá contraiu o vírus da AIDS. Ao retornar ao Brasil, desolado, entrou no mundo das drogas e até hoje está perdido no meio da desgraça que é o crack. O trabalho desenvolvido com ele não foi em cima da tecla da coação (legítima), mas do entendimento. Espero que essa atitude de entender os motivos, de tentar enxergar o ser humano que está por trás de cada crime tenha ajudado dessa vez, e que ele encontre o seu caminho de paz novamente.

Outro caso em que tive que interceder foi de uma briga familiar pela guarda de uma criança de aprocimadamente um ano e meio. A mãe, quando teve o bebê, não tinha como sustentá-lo, e para tanto, fez uma "adoção" a uns parentes com melhores condições de vida. Agora, com a vida um pouco mais estabilizada, ao ver a beleza  que era asua filha, resolveu que queria ela de volta. Obviamente os "pais" que a criaram não queriam abrir mão de tê-la por perto. E foi instalado o conflito. Aqui ouvi as partes, inclusive o Conselheiro Tutelar, e convencemos a mãe biológica que o melhor para esse momento era que a filha permanecesse onde estava, até que ela conseguisse um melhor patamar, uma melhor estabilidade e o retorno gradual de sua filha ao seu convívio. Foi um pouco difícil, pois as emoções estavam à flor da pele, e a mãe não queria abrir mão de ficar com a filha, mas conseguimos. O conflito estava solucionado - ao menos momentaneamente - e as partes retornaram para suas residências sem maiores consequências ou danos.

Algumas outras coisas ocorreram, mas nada de relevante ou marcante. Foi uma noite pinga pinga, pois a cada hora alguém aparecia aqui clamando pela solução de seu caso; e resolvemos todos eles.

No final do plantão ainda foram presos outros três, acusados de terem praticado roubo a pedestre com o uso de simulacros de arma de fogo. Mas dessa vez, ouvi os primeiros relatos, a versão da vítima, decidi pela lavratura do auto de prisão em flagrante, e deixei para a próxima equipe terminar o registro, já que era demais para uma noite o que havíamos passado.

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