terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sexta, 28.10.11 - De tudo em um só dia!!

Depois da calmaria do último plantão, já vim preparado para enfrentar o pior. Os Deuses Plantonistas podem até conceder um dia de folga, mas logo em seguida te cobram a moleza vivida. Paguei com muito cansaço e suor o dia de trabalho que passo a narrar. Algumas histórias serão contadas brevemente, para não estender demais esta narrativa.

O Sol começava a brilhar e já tinha gente tentando furtar um lava jato. A vítima percebeu a ação e gritou para que ele deixasse o bem no local, do contrário chamaria a polícia. Assustado, deixou o objeto para trás e fugiu em uma bicicleta, mas não para muito longe, já que na continuidade de seu trajeto, com o uso de uma machadinha, arrombou a porta de outra residência e lá dentro foi surpreendido pela Brigada Militar. Em sua defesa disse ser sobrinho do proprietário, porém, para azar seu, este apareceu e desmentiu a lorota. O primeiro flagrante do dia estava encaminhado.

Ainda pela manhã, dois indivíduos se aproximaram de um garoto e lhe pediram uns trocados. O menino ainda tentou ajudar, e lhes deu o dinheiro pedido, mas foi atacado logo após, quando lhe retiraram os óculos. E enquanto tentava se desvencilhar desse primeiro, o segundo retirou o celular de seu bolso e ganhou o mundo. Numa última tentativa desesperada, a vítima conseguiu reaver seus óculos. Seguiu à distância ambos, até o momento em que se separaram. Aproveitando que um deles estava sozinho, o garoto agarrou um pedaço de pau na rua e partiu para cima, agredindo-o e clamando por ajuda, pois tinha acabado de ser "roubado". Populares o ajudaram e ao menos este indivíduo foi preso. Na chegada à Delegacia, a imprensa já se fazia presente e concedi uma entrevista ao vivo na rádio local, expondo os fatos e contando o que havia sido feito a respeito.

Outro caso inusitado para os padrões da cidade foi o de um motociclista tocado por um veículo que perdeu a cabeça uns quarteirões mais adiante. Desceu da moto e com o capacete começou a quebrar o automóvel, como forma de protesto pelo fato de o motorista não ter parado para ver como ele estava. Por sorte foram contidos rapidamente e apenas danos materiais aconteceram.

A próxima prisão em flagrante foi um "furto mão grande" (nosso sistema operacional é muito antigo, e expressões como essas ainda fazem parte das tipificações que devemos fazer ao enquadrar o fato praticado pelo criminoso e o artigo da lei). Em síntese, o ladrão pegou a bolsa de uma menina, puxou-a e saiu correndo, rompendo a tira que a prendia ao corpo, não causando lesões e tampouco ameaçando-a (ficando desconfigurado um eventual roubo).

No início da noite, um roubo (com uso de faca). Até aí nada de diferente, parecia outro crime de roubo a pedestre, tão comum nos dias de hoje. Porém o caso apresentou uma particularidade muito interressante. A vítima foi ameaçada, e não reagiu um momento algum, entregando sua carteira. Quando o ladrão estava deixando o lugar, no momento em que se virava para ir embora, teve a sua carteira "furtada" pela própria vítima que havia acabado de fazer. Assim, no registro da ocorrência de roubo, apreendemos a carteira daquele que praticou o roubo. Um caso solucionado em tempo recorde.

Com todas as prisões acima, tivemos que levar os "clientes" ao presídio. No retorno, o caso mais engraçado da noite. Algumas vezes temos que rir para não chorar, e a paciência é a chave de tudo. Quem não está na rua trabalhando não sabe o que passam esses policiais que doam a vida para tornar as cidades mais seguras e tranquilas. Ainda na viatura, percebemos um carro popular fazer zigue zague, e quase chocar contra dois outros carros e um ônibus. Felizmente não houve nenhum acidente, mas continuamos atrás do carro para garantir que ninguém que fosse ultrapassá-lo fosse bater mais a frente. Logo percebemos que era um idoso no volante, então suspeitamos de que tivesse desmaiado, ou que tivesse passado mal. Assim, aceleramos a viatura e enconstamos no veículo para a abordagem. Todos os integrantes da Volante desceram (éramos três) e pedimos que o carro fosse parado. Um senhor completamente embriagado foi o que vimos. Perguntado se havia ingerido alguma bebida, ele contou que tomou todas (inclusive a saidera).

Pedimos o apoio da BM, já que não temos o bafômetro, a fim de conseguir criar provas da embriaguez e fazer a prisão em flagrante. Mas não foi possível medir o teor alcóolico. Em vez de assoprar, uma hora ele sugava, na outra assoprava pouco tempo e com nenhuma força, tamanha a quantidade de álcool ingerido. Teve um momento em que ele se desequilibrou e quase caiu, somente não acontecendo o fato porque eu o segurei, momento em que me disse: "não me segura que eu não gosto disso!".

Assim, encaminhamos o veículo e o bêbado para a Delegacia, com o intuito de fazer ao menos o registro da ocorrência. Lá, a novela continuou, e o idoso continuou brincando com a gente, fingindo que o que ele tinha feito não era grave, afirmando que so queria ir embora para casa. Enquanto dizia que não era possível que ele voltasse dirigindo, dadas as circunstâncias, ele ficava desafiando a minha autoridade: "quem pode garantir que estou bêbado?". Só quando disse que tinhamos filmagem com áudio do saguão da Delegacia com imagens dele contando que havia tomado todas é que ele se acalmou e tentou ir embora. Mas uma surpresa estava reservada a ele. Ao perder um pouco o equilíbrio, não tive tempo de segurá-lo. Em suma, uma dor de cabeça, uma multa pesada, um guincho e um cotovelo inchado serão as consequências desse irresponsável que poderia ter causado um acidente grave mais a frente, já que dirigia-se a uma movimentada avenida.

Ainda durante a pesquisa para descobrir parentes do velhinho, o sistema informatizado caiu e ficamos durante três horas sem poder registrar uma ocorrência sequer. Isso para uma sexta-feira a noite é um erro fatal! Várias guarnições se acumularam na fila de espera pelo atendimento, e nada poderíamos fazer.

Só às 3:00 horas da manhã tudo foi normalizado e começamos a registrar todos os fatos apresentados. Foram ainda mais três prisões em flagrante por embriaguez no volante, devido a uma operação para combater esse frequente crime de fim de semana (principalmente).

Mas ainda tínhamos tempo para prender em flagrante mais um delinquente por roubo com uso de uma faca de açougueiro. A tentativa dessa vez era levar uma bicicleta para vendê-la e usar o dinheiro para usar crack. O próprio bandido ficou feliz em ser enviado à prisão, na doce ilusão de que lá ele terá uma chance de se livrar das drogas (se fosse verdade, e eu pudesse salvar essas pobres almas usuárias de drogas, mandaria todas para o presídio). Na explicação de como teria agido, me contou que roubou a vítima porque era um antigo desafeto seu, como forma de vingança por uma surra anterior, mas o objetivo principal era a compra das drogas, por isso efetuamos sua prisão.

Uma menina foi apresentada como suspeita de praticar tráfico de drogas. Havia com ela 7 gramas de crack, em umas 10 pedras, e dois cachimbos, além de um caderno de anotações. Em um primeiro momento, quase fiz o flagrante, porém esperei para conhecer melhor a história e vi que se tratava de uma usuária. E se houvesse alguma venda das drogas, não estava completamente clara, por isso na dúvida não fiz a prisão, para que possa a Delegacia responsável investigar melhor o fato.

Com relação às drogas, ainda mais uma dupla tirou o meu sono. A DPPA estava tão cheia, os atendentes estavam todos ocupados, então resolvi eu mesmo registrar a ocorrência. Ambos usuários acabaram liberados, devido à pequena quantidade de cocaína encontrada com eles, muito embora irão responder pelo crime de posse.

E para finalizar a noite, já próximo das 5:00 horas da manhã, recebemos uma ligação do pronto socorro de que uma mulher teria dado entrada com um sangramento intenso devido a um estupro sofrido por um vizinho. Fomos até o hospital e ouvimos a versão dos fatos da vítima, para dar um primeiro atendimento a esse grave crime. Fiquei indignado com a violência praticada contra ela - foram necessárias 4 bolsas de sangue para repor o perdido durante a sangria sofrida. Um crime com tamanha crueldade merece uma reprimenda à altura! E nesse caso o estuprador é conhecido, o que facilita o nosso trabalho. Espero que a Delegacia do local consiga fazer um trabalho rápido para que não paire no ar a sensação de impunidade tão frequente atualmente.

Ahhhh! Só gritando mesmo para aguentar esse dia tão longo. Consegui fechar os olhos por apenas uma hora e poucos minutos até a merecida troca de plantão. Foi pesado, mas mais uma vez a sensação de ter cumprido todas as missões a mim passadas foi superior à canseira experimentada. 

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